Entrevista com o Sensei Ricardo Nakayama
Olá Pessoal! Nossa entrevista hoje é com o Sensei Ricardo Nakayama.
2 – Antes de conversarmos sobre o FMA, você poderia nos falar um pouco sobre as antigas relações entre a sua família e o Karate? Resp: É uma pergunta interessante. O Karatê foi minha primeira arte marcial, sendo sincero, uma criança não leva muito a sério o treinamento, dos 4 aos 8 anos levava a coisa na brincadeira. 8 anos... Estava em um parque infantil e fui cercado por 3 garotos que resolveram brigar comigo e graças ao Karatê me defendi deles. Foi através deste episódio que comecei a levar a sério as artes marciais. Em 2011 completei 45 anos, comecei a treinar com 4 anos de idade por influência do meu pai (que amava as artes marciais e era faixa-preta 6º Dan de Karatê). Um detalhe interessante, meu pai antes de casar com minha mãe avisou que se não tivesse um filho homem (para continuar a tradição da família) iria se separar. Ele era um homem com seus princípios e seguia rígidas tradições. Talvez por isto mesmo, não tenha continuado no Karatê, sempre comento com meus amigos que fiquei mais de 10 anos na faixa-marrom, já que meu pai só permitiu que pegasse a faixa-preta ao completar 18 anos. Nesta época da marrom, por achar que já sabia tudo do Karatê (quando somos jovens pensamos essas besteiras), me interessei por outras artes marciais na busca por novos conhecimentos.
3 – Além do Karatê, você também chegou a estudar outras modalidades, correto? Quais foram e como foi esse estudo? Resp: Acredito que não há melhor arte marcial e sim o lutador melhor preparado. Já treinei mais de 30 modalidades diferentes e sou faixa-preta em 8 artes marciais. A maior graduação que recebi foi o 5º Dan e a mais recente faixa-preta foi de Arnis/Kali Maharlika.
4 – Sobre o FMA, as Artes Marciais das Filipinas, como foi que você conhecer e como foi a sua aproximação com elas? Resp: Eu conheci as artes marciais filipinas através do Bruce Lee. No filme Operação Dragão, há uma sequência em que o personagem do Bruce utiliza dois bastões. Foi neste momento que me apaixonei pela FMA. Na minha juventude, não tínhamos fácil acesso a livros e vídeos de artes marciais importados. No mercado nacional, as poucas obras sobre o tema eram publicadas pela Ediouro. Neste tempo, assistimos o seriado “Kung Fu” do David Carradine e aos filmes de artes marciais passavam na “Poltrona R”. Demorou anos até descobrir que aquilo não era realmente nativo do Kung Fu. No Brasil na minha adoslecência, não tínhamos divulgação das artes marciais filipinas, tão pouco pessoas que ministrassem aulas de FMA. Meu primeiro seminário sobre o assunto foi através do Paulo Albuquerque. Ele organizou um seminário com os alemães (Hans e Andreas), que seguiam a linhagem Latosa Escrima. Após o seminário, fiquei amigo do Paulo e continuamos a conversar durante algumas horas sobre as artes marciais filipinas. Aproveito para agradecer o empenho do Paulo Albuquerque pelo seu esforço na divulgação das artes marciais filipinas no Brasil.
5 - E sua aproximação com o mestre Herbert Inocalla? Como foi? Resp: Desenvolvi meu próprio sistema de defesa e combate com facas. Meu representante no DF, Maurício, me perguntou o que eu achava dele treinar outras artes, especificamente com o Dada (apelido pelo qual é mais conhecido pelos seus alunos). Eu o incentivei a fazer isto. O Maurício organizou diversos seminários para mim em Brasília, sempre utilizando a academia do Mestre Dada para realizar os treinamentos. Foi natural nossa aproximação, neste contexto. Já mencionei anteriormente que devemos procurar novos conhecimentos e não há problema nenhum em um faixa-preta colocar uma faixa-branca na cintura novamente. Talvez por este motivo não gosto do termo “Mestre”. Atualmente neste nome caiu em uma vala comum, é muito fácil colocar (ou comprar) um título. Muitos evocam este termo e dizem: Não luto, se não mato. Minha arte é a melhor, a mais completa. Sentam em suas cadeiras, fogem dos treinamentos, colocam seus alunos para darem aulas e se dizem invencíveis. O verdadeiro mestre não se prova por suas habilidades e sim pela qualidade de seus alunos. A toda regra existe uma exceção. O “Mestre Dada” é uma das poucas pessoas que merecem este título, não apenas por seu conhecimento e habilidade, mas principalmente pelo ser humano que é.
6 – O Karate é uma arte modalidade muito popular nas Filipinas. O próprio mestre Inocalla foi praticante desta arte marcial durante muitos anos. Como você enxerga a relação entre a FMA e o Karate? Resp: As artes marciais filipinas não são exclusivistas, complementam a outras modalidades e podem ser completadas por elas. Um lutador deve almejar ser o mais completo possível. Veja o Karate (mãos vazias), não utiliza na maioria dos estilos praticados no Brasil, qualquer tipo de armas. O Karate tem diversos conceitos interessantes que podem ser agregados ao treinamentos das FMA.
7 – Sobre Defesa Pessoal, o que você pensa sobre a relação desta com a FMA? Resp: Ensino que a melhor defesa pessoal é a prevenção. O ideal é evitar as situações de risco, mudando pequenos hábitos, adotando regras de segurança e se preparando para antecipar e evitar o perigo. É impossível eliminar totalmente o risco, mesmo adotando uma atitude preventiva, eventualmente podemos nos distrair e nos tornar vítimas da violência. Os esportes de luta em geral são técnicas de reação, que são extremamente úteis quando falha a prevenção, desde que o foco tenha o direcionamento correto e haja a devida preparação psicológica para reagir. A arte marcial filipina, no contexto da defesa pessoal agrega conceitos simples, de fácil assimilação, retenção e aplicação em situações reais. Um grande diferencial das artes filipinas, é o uso de armas que são equalizadores. Suas técnicas se adaptam facilmente a qualquer pessoa, independente do sexo, idade, porte e limitações físicas.
9 - Seus ebooks sobre facas, tonfas e armas improvisadas são bem populares na internet. É possível encontrar neles certas referências ao FMA. Como foi a idéia de criar essa material? Há planos para o lançamento de novos livros no futuro? Resp: Percebi que há uma lacuna em relação a materiais de estudo sobre artes marciais e defesa pessoal, principalmente destinado aos profissionais de segurança pública que não tem condições de investir do próprio bolso para seu aperfeiçoamente. Estes ebooks e apostilas foram lançados com este proposito. Minha idéia inicial era publicar um livro por mês, mas pessoas inescrupulosas começaram a vender na internet (e ainda são vendidos), aquilo que deveria ser distribuido gratuitamente. A desilusão foi grande, mas a recompensa foi maior ainda. Dezenas de instrutores de defesa pessoal de vários grupos policiais no Brasil utilizaram ou utilizam os meus ebooks em seus treinamentos. Foi uma grata surpresa quando eu visitei a Academia Nacional de Policia (ANP) e o responsável pela área treinamento de defesa pessoal da policia federal me mostrou algumas páginas da minha apostila nas paredes do ginásio que utilizam para as aulas. Da mesma forma, fiquei surpreso ao conversar com um ex-combatente das forças especiais israelenseas que me disse que minha apostila de combate com facas é usada como material de referência em Israel. Quanto ao lançamento de outros livros no futuro, eu já tenho pronto várias obras que só estão disponiveis para os nossos alunos, devido aos problemas anteriormente relatados.
10 - Muito obrigado pela entrevista! Você gostaria de deixar uma mensagem para os nossos leitores? Resp: Gostaria de agradecer o convite para esta entrevista e parabenizar pela iniciativa do blog que está ajudando muito a difundir a arte marcial filipina no Brasil. Aos leitores que já mostraram interesse ao ler o blog, começem a praticar, com certeza se apaixonarão pelas FMA como eu me apaixonei. Devemos aprender todos os dias através de nossos pensamentos, experiências e práticas.