Modern Arnis Tapi Tapi

 Conteúdo originalmente publicado no livro: TAPI TAPI: A HISTÓRIA DO MODERN ARNIS MATTI ISBN: 978-65-01-00316-0 Escrito pelo Professor Tales de Azevedo Este conteúdo é protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido sem autorização. Ao utilizar trechos deste material, favor referenciar a origem adequadamente.

A história do Modern Arnis Tapi Tapi é uma saga de mestres visionários e praticantes dedicados, mas é também a história de um homem que transformou sonhos em realidade: o Grão Mestre Samuel "Bambit" Dulay. Guiado por uma paixão ardente pelo Arnis e um compromisso inabalável com a tradição, o GM Bambit Dulay deu vida ao Modern Arnis Tapi Tapi, uma expressão única do espírito filipino.

Desde suas origens filipinas até seus feitos impressionantes nos palcos internacionais, o Modern Arnis Tapi Tapi floresceu sob a liderança inspiradora do GM Bambit Dulay. Seus ensinamentos têm sido uma fonte de inspiração para milhares ao redor do mundo, moldando não apenas lutadores habilidosos, mas também líderes e visionários.

Conheça essa jornada extraordinária através do tempo e do espaço, enquanto exploramos as raízes do Modern Arnis Tapi Tapi, honramos seus fundadores e celebramos seu legado. Esta é mais do que uma história de artes marciais - é uma história de paixão, determinação e transcendência. Bem-vindo ao mundo do Modern Arnis Tapi Tapi! 

O Começo em Hinigaran

As Filipinas, um conjunto de ilhas paradisíacas entrelaçadas no tecido do Sudeste Asiático, são muito mais do que apenas um arquipélago. São um epicentro de diversidade cultural e histórica, desempenhando um papel crucial na formação de uma das artes marciais mais fascinantes do mundo: o Modern Arnis.

Antes mesmo da chegada dos europeus, as Filipinas já vibravam com uma rica tapeçaria de comunidades enraizadas no comércio com outras nações asiáticas. Esse intercâmbio constante não apenas enriqueceu a cultura local, mas também deixou uma marca indelével na identidade singular das Filipinas.

Em 1521, a chegada de Fernando de Magalhães sob a bandeira espanhola marcou o início de um capítulo complexo na história filipina. Durante três séculos, o domínio espanhol transformou profundamente a sociedade local, desafiando suas tradições ancestrais e moldando uma influência católica dominante. No final do século XIX, movimentos de resistência, como a sociedade secreta Katipunan, emergiram, unindo os filipinos em uma luta fervorosa contra a dominação estrangeira e ajudando a solidificar uma identidade nacional única.

Após uma luta árdua pela independência, as Filipinas encontraram-se sob o protetorado americano, trazendo consigo uma nova era de mudanças e influências. Este período testemunhou não apenas avanços significativos na infraestrutura e economia, mas também uma rica troca de culturas e ideias.

Remy Presas veio ao mundo em 19 de dezembro de 1936, na pitoresca vila de pescadores de Hinigaran, Negros Ocidental, nas Filipinas. Seu nascimento aconteceu em casa, em uma modesta cabana construída principalmente com folhas das árvores Nepa. Naquele dia, o ar era quente e uma brisa suave soprava, mas a tranquilidade logo seria interrompida pela iminência da Segunda Guerra Mundial e pela chegada dos japoneses às Filipinas.

Seu pai, José Presas, não só era um empresário, mas também servia como tenente no Movimento Guerrilheiro dos EUA. Antes da invasão japonesa, José liderou sua família e alguns combatentes guerrilheiros para o interior das montanhas de Hinoba-an. Lá, durante os anos de 1941 a 1945, José Presas treinou incansavelmente seus companheiros de batalha, transmitindo-lhes os intricados conhecimentos da arte marcial mortal do arnis, preparando-os para os conflitos iminentes.

As operações lideradas por José Presas contra os japoneses tornaram-se lendárias. Os guerrilheiros sabotavam os esforços inimigos, causando incômodos significativos às forças invasoras japonesas. Apesar das tentativas japonesas de capturá-los ou cercá-los, os combatentes guerrilheiros sempre escapavam, refugiando-se nas montanhas.

A guerra transformou as Filipinas em um cenário de violência e adversidade. Remy, desde tenra idade, absorvia as histórias dos confrontos com os japoneses e testemunhava os esforços de resistência liderados por seu pai. Mesmo quando criança, sua curiosidade e fascínio pelo treinamento militar eram evidentes, como demonstrado ao observar secretamente os treinamentos dos guerrilheiros, apesar das proibições. Os treinamentos aconteciam em uma sala feita de folhas de Nepa. A sala ficava em um lugar alto e Remy era pequeno. Ele ficava em cima de uma pedra e puxava algumas folhas para poder espiar. Sabia que crianças não eram permitidas a assistir, mas sua curiosidade era imensa e ele não conseguia esperar. Às vezes, ele ficava tão empolgado com o que via que acabava escorregando.

Ele estava ansioso para experimentar o que via seu pai ensinar, então aos 6 anos de idade ele pediu ao seu avô, Leon Bonco Presas, se poderia pegar sua espada para cortar um galho. Seu avô perguntou por quê, e Remy não contou, então seu avô emprestou a espada e o seguiu. Ele então observou Remy cortar alguns galhos e logo depois devolver a espada. Leon Presas curioso pediu ao neto para mostrar o que sabia. Remy o impressionou tanto que Leon disse: "Não se preocupe com eles, eu vou te ensinar". 

Leon Presas era um veterano da Guerra Hispano-Americana e um arnisador formidável. Todos os dias, ele levava Remy para as montanhas e o treinava. Quando não estava com seu avô, Remy praticava sozinho. Como não tinha parceiro, as árvores se tornaram seus oponentes. Ele puxava a árvore e a golpeava. No início, a árvore voltava e o acertava, mas logo Remy conseguia se movimentar mais rápido do que as árvores.

Em seu dialeto, o Arnis era chamado de "baston". Como não havia escola para frequentar, Remy passava todos os momentos livres  Às vezes, ele subia em sua pedra rochosa e espiava pelas folhas de Nepa enquanto seu pai ensinava. Ele percebia que seu pai às vezes fazia os homens praticarem a mesma coisa várias vezes. Remy percebeu que a repetição devia ser o caminho para aprender, então ele praticava os movimentos básicos nas árvores repetidas vezes.

Remy estava prestes a completar 7 anos quando seu pai programou uma avaliação para seus soldados. Leon Presas convidou Remy para acompanhá-lo. Todos os olhares se voltaram para Remy ao adentrar a sala, enquanto Leon anunciava: "Remy fará uma demonstração". A surpresa pairava no ar. Remy solicitou um parceiro e, com habilidade impressionante, demonstrou as técnicas. O silêncio de seu pai, José Presas, ecoou pela sala. Ele não desejava que seu filho seguisse carreira militar, almejava que ele se tornasse empresário. Mesmo assim, Leon Presas persistiu no treinamento do menino.

Durante a guerra, muitas batalhas foram travadas com armas de fogo, e o pai de Remy estava encarregado das armas e munições para os submarinos dos EUA. No entanto, muitos filipinos preferiam utilizar armas nativas. Entre eles estavam os membros dos "Batalhões de Bolo", que recusavam as baionetas em favor dos tradicionais facões conhecidos como bolos. Mesmo carregando seus .45, esses batalhões eram temidos por sua eficácia.

Num certo dia, Remy encontrou um revólver .45 desacompanhado, e sua curiosidade infantil o levou a manuseá-lo. O incidente ocorreu na presença do coronel Billammore e sua esposa Maria. Ao acionar o gatilho, a bala acabou atingindo Maria Billammore de raspão. Por ser apenas uma criança na época, Remy foi repreendido, e seu pai punido pelo ocorrido.

Em outra ocasião, enquanto brincava com seu irmão mais novo, Remy encontrou algumas balas no acampamento dos soldados. Embora as brasas do fogo já estivessem se extinguindo, a curiosidade deles os levou a jogar as balas no fogo. O resultado foi um disparo repentino, que assustou todos os soldados presentes, gerando novos problemas para Remy.

Em 1943, as ilhas das Filipinas foram invadidas pelos japoneses, mergulhando o país em um período de conflito e resistência. José Presas e seus companheiros foram forçados a se deslocar constantemente pelas montanhas de Negros Occidental até Negros Oriental, onde o jovem Remy encontrou-se imerso em um ambiente onde a única educação disponível era o treinamento na batalha. Os filipinos, conhecidos por sua destreza como lutadores, desempenharam um papel fundamental na resistência contra os invasores japoneses. Tamanha era sua habilidade que, quando o General McArthur retornou, encontrou um país onde os japoneses haviam sido fortemente desgastados pelos filipinos, que não apenas conheciam a terra, mas também sabiam como lutar. Tal era a destreza dos filipinos que eram necessários de 90 a 100 japoneses para enfrentar apenas 10 filipinos.

Em 1945, com a rendição do Exército Japonês, a guerra finalmente chegou ao fim. José mudou sua família de volta para Hinigaran, onde Remy enfrentou o desafio de se ajustar a uma vida de criança normal, incluindo a ida à escola. No entanto, devido aos tumultos causados pela guerra, muitas crianças, incluindo Remy, nunca haviam frequentado uma sala de aula e lutavam para entender o conceito de paz. Confrontado com valentões na escola, Remy rapidamente aprendeu a se defender, eventualmente tornando-se um deles.

Aos 9 anos, Remy testemunhou seu primeiro duelo real de Arnis entre membros de clãs rivais. Observando a violência e os danos resultantes, ele percebeu que o Arnis, quando usado de maneira tão brutal, só trazia sofrimento e lesões. Determinado a preservar a integridade da arte, Remy decidiu ensiná-la de uma maneira que promovesse o respeito e a segurança. Seu compromisso com a prática consciente e responsável do Arnis marcou o início de uma jornada para compartilhar sua paixão pela arte marcial com outros.

Durante seus anos no Instituto Hinigaran para concluir seus estudos, Remy enfrentou desafios típicos de um adolescente magro e pequeno. Frequentemente, ele se via obrigado a utilizar suas habilidades de luta para sobreviver, já que os estudantes mais velhos o intimidavam. Entre as atividades populares na escola estavam as disputas que lembravam o boxe, uma prática já enraizada na cultura filipina. Remy, por sua vez, não hesitava em participar desses embates, o que acabou contribuindo para sua reputação de brigão. Todos ao redor o rotulavam como valentão, sempre envolvido em confrontos após o término das aulas. A situação atingiu um ponto crítico quando, em uma briga, Remy acabou arrancando os dentes de outro estudante, resultando em sua suspensão por um mês e um confronto direto com o diretor.

Naquela época, era comum nas escolas filipinas haver um conselho estudantil composto por representantes de cada série, um presidente e um aluno responsável pela observação das regras de conduta. No entanto, as escolas eram um ambiente desafiador, com casos frequentes de roubo, vandalismo e alunos embriagados. Diante de tantos conflitos, surgiu a preocupação de que um jovem como Remy estivesse constantemente envolvido em confrontos. Foi então que um membro do conselho sugeriu oferecer a Remy a responsabilidade de monitorar o comportamento dos alunos, na esperança de que isso o ajudasse a mudar seu comportamento. A proposta causou tumulto entre os estudantes mais velhos, que tradicionalmente ocupavam esse papel. Após debates acalorados, o conselho estudantil decidiu conceder a Remy essa responsabilidade.

Inicialmente relutante, Remy acabou aceitando o desafio, movido pelo desejo genuíno de fazer a diferença e não ser mais visto como um valentão. Ele reuniu alguns estudantes, na qual conseguiu o apoio e formou um grupo. Com todos alinhados, eles se tornaram uma espécie de força de segurança dentro da escola, aplicando as regras com firmeza e impactando positivamente a comunidade estudantil. A violência e os distúrbios diminuíram drasticamente, e a autoridade de Remy como líder da milícia estudantil foi estabelecida rapidamente. Após meses de mandato, Remy enfrentou seu primeiro desafio aberto quando confrontado com um aluno embriagado dentro da sala de aula. Demonstrando determinação e habilidade de liderança, ele agiu com firmeza, restaurando a ordem e a segurança na escola. Essa experiência marcou um ponto de virada na vida de Remy, reforçando seu compromisso em sempre fazer o que é certo.

Impulsionado pela pressão dos pais para buscar uma educação mais voltada para os negócios e seu desejo ardente de aprofundar seus conhecimentos em artes marciais, Remy tomou uma decisão ousada aos 14 anos: deixou sua casa e abandonou os estudos. Embarcando clandestinamente em um navio com destino a Cebu, ele buscava aprimorar suas habilidades nas artes de combate. Ao chegar, encontrou abrigo na casa de seu tio Fredo Presas, supervisor-chefe de mão de obra em Cebu, uma posição de grande influência na qual estava encarregado de mais de 5.000 trabalhadores. No entanto, essa posição colocava Remy em risco, sujeito à animosidade de trabalhadores insatisfeitos que poderiam buscar represálias através de sua família.

Para protegê-lo, Fredo impôs severas restrições a Remy, limitando seus movimentos e atividades, preferindo que ele passasse a maior parte do tempo em casa. Contudo, essa imposição não estava de acordo com os anseios de Remy, que almejava controlar seu próprio destino e ganhar a vida por mérito próprio. Consciente de que a única maneira de conseguir emprego em Cebu era através de seu tio, ele confrontou Fredo e exigiu o direito de trabalhar. Após uma acalorada discussão, seu tio consentiu, embora apenas em tarefas de menor importância, sob a condição de que Remy não usasse o sobrenome Presas, temendo o prejuízo à reputação da família.

Embora essa condição tenha sido dolorosa para Remy, ele a aceitou e começou a ganhar a vida sob o nome de Remy Amador na Companhia Steban. Enquanto trabalhava no cais, Remy fez amizade com Rodolfo Moncal, que compartilhava o mesmo dialeto. Moncal o introduziu ao estilo Balintawak, e durante cerca de um ano, Remy treinou arduamente sob sua tutela, aprimorando suas habilidades existentes. Apesar disso, seus planos foram abruptamente interrompidos quando Fredo e José Presas decidiram que seria melhor para Remy permanecer em casa e cuidar dos porcos. Determinado a seguir seu próprio caminho, Remy se recusou a se conformar com a vida agrícola e doméstica que lhe era imposta.

Agora enfrentando despesas por viver sozinho, Remy estava determinado a recuperar seu emprego. Sem cerimônias, ele irrompeu na sala de recepção do escritório de seu tio, onde foi recebido pelos quatro imponentes seguranças do tio. Eram homens duros, com tatuagens que denotavam experiência em lutas. Alguns até eram conhecidos por suas habilidades letais. No entanto, Remy confiava em sua habilidade no Arnis e acreditava que poderia enfrentá-los, se necessário. 

Fredo, desejando evitar mais confrontos, instruiu seus seguranças a manter Remy afastado do escritório. Mas Remy não se deixou dissuadir facilmente. Ignorando as objeções do chefe dos seguranças, Mr. Capayoung, ele decidiu tomar uma medida drástica. Determinado, dirigiu-se a uma loja de tubos e, com o último dinheiro que tinha, comprou um tubo de aço de 24 polegadas. Enrolando-o em um jornal velho, retornou ao escritório de seu tio.

No caminho, encontrou seu primo Paulino, que percebeu imediatamente a tensão em Remy. Tentou dissuadi-lo de causar problemas, mas Remy estava decidido a fazer valer sua vontade. Ele se considerava diferente, alguém que não se deixava influenciar facilmente. Convicto de que os seguranças não ousariam enfrentá-lo, entrou na sala de recepção mais uma vez, encontrando os mesmos homens determinados a impedi-lo.

Porém, desta vez, a confiança de Remy foi testada. Quando o primeiro segurança tentou contê-lo, Remy rapidamente neutralizou sua tentativa. Advertiu os outros: "Se tentarem me impedir, cairão". À medida que os outros seguranças se aproximavam, Remy agiu com precisão, atingindo-os na tíbia, cabeça e boca. Em questão de momentos, os quatro seguranças estavam no chão, alguns com dentes perdidos. Remy permanecia em pé, surpreendendo a todos ao redor.

Com a multidão em alvoroço, Remy fugiu antes da chegada da polícia, permanecendo escondido por duas semanas. Quando finalmente retornou à casa de seu tio, enfrentou a desaprovação por seus atos, mas o sangue falou mais alto. Fredo, eventualmente, perdoou Remy e até mesmo o convidou para trabalhar com seus seguranças, reconhecendo a coragem e a habilidade do jovem.

Em seguida, Remy embarcou na jornada de aprendizado da arte do Balintawak com um dos praticantes mais habilidosos, Timiteo Marranga, um dos instrutores de Moncal. Rapidamente, ele mergulhou em torneios de contato total, onde sua habilidade em derrubar seus oponentes o destacou, garantindo-lhe a reputação de um dos melhores da área.

Moncal desempenhou um papel fundamental ao apresentar Remy ao prestigiado estilo de combate do Balintawak Self Defense Club, liderado pelo renomado mestre Anciong Bacon. Sob a orientação de Bacon, o Balintawak enfatizava movimentos ágeis, táticas de contra-ataque e um treinamento rigoroso de sparring full contact. O método de Bacon, conhecido por incluir o uso de equipamentos pesados, exercícios de força e técnicas de respiração, solidificou a reputação do Balintawak como uma das escolas mais respeitadas e influentes da eskrima.

Após seis meses de treinamento intensivo, Marranga assegurou a Remy que ele estava pronto para enfrentar qualquer desafio. Sua habilidade não passou despercebida pelo Grão-Mestre de Balintawak, Venancio Bacon, que se interessou por Remy após vê-lo em alguns torneios. Determinado a aprender com o renomado mestre, Remy regularmente o visitava, levando presentes como queijo ou uísque.

Após algumas visitas, Bacon convidou Remy para uma conversa informal, regada a uísque. Impressionado com o conhecimento e habilidade de Remy, Bacon elogiou seus professores e o encorajou a continuar seu treinamento. Após praticar algumas técnicas sob a orientação do Grão-Mestre, Remy se sentiu mais confiante, impressionado com o poder e controle demonstrados por Bacon. Após uma demonstração de suas habilidades, Bacon afirmou a Remy que ele era muito talentoso e capaz de enfrentar qualquer desafio que surgisse em seu caminho.

A Escola Balintawak e seu rival, Doce Pares, exerciam uma influência dominante sobre o cenário da escrima na região. Remy comparava essas duas instituições como os "leão e tigre das Filipinas, disputando o mesmo território selvagem". Desafios eram frequentemente lançados e aceitos por ambos os lados, levando a confrontos intensos nas ruas e vielas da cidade.

As batalhas com os membros do Doce Pares e Balintawak eram rápidas e brutais, travadas com bastões de madeira maciça, como Kamagong e Bahi. Em meio a um ambiente sem regras, o objetivo era simples: lutar até que um dos combatentes se rendesse, em embates que muitas vezes duravam apenas segundos. No entanto, além do crescimento técnico, Remy também passou por uma evolução filosófica.

A contemplação da brutalidade e violência ao seu redor o levou a buscar uma abordagem mais disciplinada e esportiva nas competições de artes marciais urbanas. Ele percebeu que, além da habilidade física, era essencial cultivar uma mentalidade de respeito e disciplina, buscando um equilíbrio entre a paixão pela luta e a busca pela paz interior.

Apesar de seu treinamento aprimorar suas habilidades, Remy começou a sentir-se desconfortável com a violência envolvida. A realidade das lutas não era mais apenas um esporte; agora ele estava enfrentando verdadeiras batalhas. Sua reputação como lutador duro e temido estava bem estabelecida - ninguém queria enfrentá-lo com medo das consequências. Isso o fez refletir sobre sua abordagem.

Decidido a não causar danos desnecessários, Remy tentava conter sua força durante as lutas, optando por "brincar" com seus oponentes sempre que possível para evitar ferimentos graves. No entanto, havia desafios que ele preferia evitar, especialmente aqueles em que oponentes sedentos por sangue buscavam confronto.

Um dia, Marranga propôs que Remy enfrentasse Bebe Biaz, um aluno e sobrinho de Delphin Lopez, conhecido por suas habilidades formidáveis e por sua influência na comunidade. Apesar de não temer o confronto, Remy hesitou em desafiar alguém tão próximo de Lopez, uma figura proeminente no Balintawak. No entanto, Marranga sugeriu que essa poderia ser a oportunidade de Remy alcançar o topo do ranking, algo tentador para ele.

Mais tarde, Edwardo Bicalle convidou Remy para sua casa, onde havia comida, bebida e um pequeno ginásio para treinamento. O ambiente, apesar de peculiar, proporcionava um local ideal para praticar. Lá, Remy encontrou outros praticantes, incluindo Moncal, Marangga, GM Bacon e até Bebe Biaz. Moncal, querendo avaliar o progresso de Remy, convidou-o para uma prática. Após a sessão, Moncal expressou sua admiração, afirmando que Remy tinha potencial para derrotar qualquer um. Isso significava muito vindo de alguém que o introduzira ao mundo do Balintawak.

Após receber tal elogio, Remy foi desafiado por um homem chamado Bodylass, um boxeador, para uma luta. No entanto, Remy demonstrou sua superioridade, esquivando-se habilmente dos ataques de Bodylass e controlando o ritmo da luta com sua agilidade e velocidade. Após a vitória, em meio a celebrações e bebidas, Remy desafiou animadamente quem mais se atreveria a enfrentá-lo. Bebe Biaz aceitou o desafio, e logo a luta começou.

Em pouco tempo, Remy mostrou sua destreza ao causar ferimentos em seu oponente, deixando-o ensanguentado e ofegante no chiqueiro dos porcos. Bebe Biaz precisou de atendimento médico urgente, recebendo 14 pontos na sobrancelha como resultado dos golpes de Remy. Com essa vitória, Remy se convenceu de que era capaz de derrotar qualquer oponente.

No entanto, a vitória de Remy não foi bem recebida por Delphine Lopez, que ficou furioso ao ver seu sobrinho e aluno principal ser derrotado por um recém-chegado. Determinado a confrontar Remy, Lopez iniciou uma busca por ele. Sob o sábio conselho de GM Bacon, Remy decidiu deixar Cebu para evitar problemas maiores.

Antes de partir, Remy fez um acordo com GM Bacon. Ele concordou em não usar o sistema Balintawak caso saísse, comprometendo-se a desenvolver sua própria arte de luta focada em autodefesa e adequada para competições mais civilizadas. Ele expressou seu desejo de disseminar a arte para beneficiar mais pessoas, mostrando respeito ao seu mestre.

Decidido a ensinar Arnis de uma forma que equilibrasse a autodefesa com o prazer da prática esportiva, Remy planejava instruir seus alunos sobre como sobreviver nas ruas, enquanto também proporcionava uma experiência mais segura e satisfatória na arte marcial. Ele reconheceu que ninguém sairia vencedor se os confrontos resultassem em ferimentos graves ou morte, e queria evitar que isso acontecesse através de seu método de ensino.

A Modernização do Arnis

Em 1957, após deixar Cebu, Remy dirigiu-se à cidade de Bacolod, depois de uma breve estadia em Hinigaran. Lá, matriculou-se em aulas noturnas para retomar e concluir seus estudos, enquanto durante o dia buscava oportunidades de trabalho em espaços dedicados à educação física e práticas esportivas. Paralelamente, dedicava-se ao ensino do Arnis.

Foi em 1958 que Remy conheceu os irmãos Romy e Rodolfo Lisondra, que se tornaram seus alunos. Ao longo do tempo, os irmãos Lisondra se destacariam como alguns dos mais dedicados discípulos de Presas, mantendo viva a tradição do Arnis ao longo de suas vidas.

Bacolod era um ponto de encontro vibrante para artistas marciais e praticantes de Arnis de todo o país. A reputação de Remy, com seu domínio do Balintawak, o destacou na região, conferindo-lhe uma nova identidade no cenário das artes marciais e impulsionando sua fama.

No entanto, Remy enfrentou desafios iniciais ao tentar atrair alunos para sua prática. Muitos estavam mais interessados em estilos estrangeiros como o Karatê ou o Judô. Além disso, a abordagem tradicional do Arnis, que envolvia golpes diretos com bastões, gerava preocupações quanto às lesões, desencorajando potenciais praticantes.

Foi nesse contexto que Remy viu a oportunidade de inovar. Ao observar o crescente interesse pelo Karatê nas Filipinas, ele reconheceu os obstáculos enfrentados pelo Arnis devido aos seus métodos de ensino tradicionais.

Para modernizar e tornar o Arnis mais atrativo, Remy introduziu mudanças significativas em sua prática. Inspirado pelo modelo bem-sucedido do Karatê, implementou uniformes padronizados, um sistema de graduação por faixas e a incorporação de Katas ao treinamento. Essas reformas visavam tornar o Arnis mais acessível e seguro, especialmente para uma nova geração de interessados.

Ao associar o Arnis ao Karatê, Remy adotou uma estratégia de marketing perspicaz, denominando seu sistema renovado de "Karatê Filipino". Essa abordagem inteligente realçava as semelhanças entre as duas disciplinas, aproveitando a popularidade já estabelecida do Karatê para atrair mais adeptos ao Arnis. Essa fusão de tradição e modernidade foi fundamental para revitalizar o interesse no Arnis e assegurar sua relevância contínua como uma arte marcial dinâmica nas Filipinas e além. Assim, Remy começou a ensinar sua arte sob o nome de "Karatê Filipino", uma escolha que refletia sua visão inovadora e compromisso com o progresso da tradição do Arnis.

Nascida em 27 de dezembro de 1939, na efervescente cidade de Bacolod, Rosemary Lopez Pascual demonstrou desde cedo um talento excepcional para atividades atléticas, destacando-se especialmente no manejo de bastões. Sua jornada educacional teve início aos 16 anos, quando ingressou na escola de Negros Ocidental, imergindo em um ambiente propício para desenvolver suas habilidades e interesses. Foi durante esses anos formativos que Rosemary cruzou caminhos com Remy Presas, um encontro que viria a moldar o curso de suas vidas. Apresentados por um amigo em comum, o vínculo entre eles floresceu rapidamente, culminando em seu casamento em 27 de julho de 1961, um marco que não apenas uniu duas almas, mas também uniu seus destinos no mundo das artes marciais.

Ainda em 1961, por intermédio da família de Rose, Remy ingressou no La Salle College, uma instituição de renome que desempenhava um papel vital na educação da juventude filipina. Fundado pelos Irmãos Cristãos de La Salle, o La Salle College era conhecido por sua abordagem educacional completa, que buscava desenvolver não apenas o intelecto, mas também o caráter e as habilidades práticas dos alunos. Durante sua estadia lá, Remy não apenas aprimorou seus conhecimentos acadêmicos, mas também começou a expandir suas atividades relacionadas ao Arnis, compartilhando suas habilidades com colegas e interessados.

Dois anos depois, em 1963, Remy deu continuidade à sua busca por conhecimento ao ingressar na Universidade de Negros Ocidental - Recoletos (UNO-R). Fundada pelos frades recoletos, a UNO-R era uma instituição de ensino superior comprometida em oferecer uma educação de qualidade e acessível à comunidade local. Além de seus estudos acadêmicos, Remy encontrou na UNO-R uma plataforma para desenvolver ainda mais suas habilidades em Arnis. Ele começou a montar suas primeiras turmas de Arnis, com o objetivo de capacitar os alunos com habilidades de autodefesa urbanas, enquanto priorizava sua segurança.

Essas experiências educacionais foram cruciais para o desenvolvimento de Remy como mestre de Arnis. Elas não apenas ampliaram seu conhecimento acadêmico, mas também forneceram um ambiente propício para ele compartilhar e aprimorar suas habilidades em artes marciais. Foi durante esse período que Remy começou a vislumbrar uma nova direção para o Arnis, inspirando-se nas artes marciais japonesas e buscando modernizá-lo. Introduzindo padrões, hierarquias e um foco renovado no bem-estar dos praticantes, Remy iniciou uma transformação que moldaria o futuro do Arnis.

Remy Presas e os Doromals, especialmente Pedro Doromal Jr., desempenharam papéis significativos no desenvolvimento e na disseminação das artes marciais, especialmente o Arnis, em Bacolod e arredores. Pedro Doromal Jr., um dos Arnisadors mais proeminentes da região, era amplamente reconhecido por sua habilidade e posição como comandante corporativo da unidade de formação de reservistas na escola. Sua habilidade era respeitada, conhecida por sua destreza marcial e instrução dedicada aos Escoteiros dos EUA. No entanto, quando surgiram rumores sobre um novo instrutor de karatê com uma reputação impecável como lutador de Arnis, Doromal viu uma oportunidade de provar a superioridade de seu estilo de Escrima.

Decidido a ensinar uma lição ao novo instrutor, Doromal desafiou Remy para uma luta pública diante de uma grande multidão. Remy, ciente da habilidade de seus alunos ao enfrentá-lo, conhecia seu sistema de luta, enquanto eles não conheciam o dele. Embora tenha recusado os desafios de Doromal várias vezes para evitar conflitos com o comandante, Remy eventualmente concordou, cedendo à persistência de Doromal. No confronto, Remy demonstrou sua maestria, desarmava Doromal repetidamente e respondia prontamente a cada tentativa deste. Diante da superioridade de Remy, Doromal finalmente se rendeu, reconhecendo sua habilidade e decidindo estudar com ele. Esse episódio marcante ilustrou o ditado "se você não pode vencê-los, junte-se a eles", iniciando não apenas uma amizade entre eles, mas também impulsionando a reputação de Remy como instrutor, com o apoio de Doromal.

Por sua vez, Remy Presas demonstrou não apenas habilidade excepcional, mas também um espírito de luta incomparável. Sua capacidade de desarmar adversários habilidosos, como no caso do confronto com o oponente usando Espada y Daga, mostrou sua destreza e confiança. A vitória sobre lutadores proeminentes, como Sr. Yanson de Bacolod, rendeu-lhe não apenas respeito, mas também uma base sólida de alunos e seguidores.

A parceria entre Remy Presas e Pedro Doromal Jr. marcou uma fase de renovação nas artes marciais em Bacolod. Sob a orientação de Doromal, Remy foi incentivado a fundar sua própria escola, a Negros Martial Arts Self Defense, refletindo sua visão inovadora e seu compromisso com o desenvolvimento da comunidade marcial. Essa colaboração não apenas fortaleceu o cenário das artes marciais em Bacolod, mas também contribuiu para o legado duradouro de Remy Presas e sua influência na promoção e preservação das artes marciais filipinas.

Remy ouviu falar sobre um lutador guerrilheiro especialmente duro em Lacalota, Meling Ancong, ex-aluno de Esco Lacador, conhecido por ser implacável e pronto para atacar qualquer um que o irritasse. Remy, curioso para testar suas habilidades, sabia que precisava abordar a situação com cautela. Embora também quisesse enfrentar Lacador, que estava aposentado e não interessado em lutar, Remy decidiu iniciar com Meling. Ele pediu a Doromal que o acompanhasse até Lacalota para encontrar Meling. Escolheram um domingo, dia de mercado em Lacalota, para a visita, mas, para sua decepção, Meling não apareceu.

De volta a Bacolad naquela noite, Remy e Doromal decidiram esperar algumas semanas e tentar novamente. Desta vez, quando voltaram ao restaurante, encontraram Meling lá. Remy se apresentou a ele com respeito e solicitou educadamente a oportunidade de demonstrar suas habilidades. Meling, embora relutante a princípio, concordou em encontrar-se com eles para um desafio, desde que fosse em um local público e que cada um trouxesse apenas um ou dois acompanhantes.

No encontro, Meling tentou atacar Remy repetidamente, mas Remy, ágil e habilidoso, sempre bloqueava seus movimentos. Mesmo quando Meling tentou lutar wrestler, Remy continuou dominante. No entanto, Remy foi diplomático e elogiou a habilidade de Meling. Quando Meling, cansado e frustrado, acusou Remy de brincar com ele, Remy respondeu com calma, evitando um confronto direto.

Esco, impressionado com a atitude respeitosa de Remy, reconheceu que, se Remy tivesse sido menos cortês, a situação poderia ter escalado para violência. Esco elogiou Remy por sua habilidade e até mesmo escreveu várias cartas de recomendação para ele. Uma dessas recomendações levou Remy a um aluno rico, Freddy Ullo Jr., que valorizou tanto as lições que acabou proporcionando a Remy muitas oportunidades valiosas na cidade de Bacolad. Com o tempo, a reputação de Remy como um mestre excepcional cresceu, atraindo uma clientela diversificada, incluindo figuras proeminentes como o filho do prefeito e o filho do congressista Ramon Guanson.

Apesar dos desafios iniciais, Remy conseguiu converter um oponente em um aliado poderoso. Amerocen, inicialmente interessado em humilhar Remy em um desafio, acabou se tornando seu aluno por quase dois anos. A relação deles não só beneficiou Remy financeiramente, mas também lhe proporcionou conexões valiosas na comunidade, incluindo uma família rica que lhe proporcionou os meios para estabelecer seu próprio negócio.

Naquela época, o nome "Modern Arnis" ainda não existia. Sem categorizações numéricas ou estilos definidos, o sistema era conhecido como Wedo (do inglês “We Do”), uma expressão que indicava uma abordagem prática e direta: "Nós fazemos isso e fazemos aquilo". O Sinawali, que hoje é reconhecido como um componente essencial do Arnis, era chamado pelo seu nome antigo. Arnis era simplesmente referido como Baston, enquanto o Tapi-Tapi era conhecido como “Kurridas”, destacando seu foco em movimentos rápidos e encurtados, ideais para o combate em distâncias curtas.

Na prática, o foco era no dikititan, o combate de curta distância, enfatizando tanto a defesa quanto o ataque em intervalos próximos. O desarmamento não era uma prioridade imediata; primeiro, os alunos dominavam os fundamentos e os conceitos básicos do sistema. Isso incluía os Fundamentos e o Sinawali, que serviam como a base essencial do Arnis. Os praticantes aprendiam as posições corretas, os bloqueios adequados e os padrões de ataque e defesa.

O treinamento abrangia o uso tanto do bastão único quanto do duplo, com técnicas específicas para cada configuração. Para bastões duplos, havia uma ênfase na utilização de bastões longos, expandindo as opções de combate e defesa. Quando se tratava de defesa contra faca, o método preferido envolvia o uso do Duplo Sinawali com bastões duplos. Esta abordagem tradicional, ancorada nos princípios do Wedo, refletia uma época em que o Arnis, ou Baston, e suas variantes eram integralmente incorporados à prática marcial das Filipinas.

Foi nessa época que o gênio de Rosemary desempenhou um papel crucial e influente. Sua experiência como educadora respeitada trouxe uma abordagem pedagógica refinada ao ensino de Remy, contribuindo para dar forma à maneira como as técnicas de bastão eram ensinadas e compreendidas. Sua mente criativa foi responsável pela nomenclatura de técnicas emblemáticas, como a sequência dos "doze golpes", destacando sua contribuição única para o desenvolvimento do sistema.

Em 1964, Mestre Bebing Lisondra e seu irmão Rudolfo “Rudy” Lisondra foram os primeiros a receber a faixa preta de Modern Arnis, para ser mais exato em 11 de dezembro de 1964. Em 1968, Lisondra assumiu o cargo de instrutor assistente sob a orientação de Remy Presas e o nome “Modern Arnis” passa a ser oficialmente utilizado sob sugestão de Rosemary Presas.  Nesse período, enquanto Remy ministrava cursos e compartilhava sua experiência, Rosemary desempenhava diversas funções, gerenciando comunicações, organizando eventos e servindo como uma ligação entre o Modern Arnis e o mundo exterior.

A contribuição Rosemary para a documentação do legado do Modern Arnis foi crucial, incentivando Remy a consolidar seu vasto conhecimento em um livro que se tornou uma obra de referência indispensável nas artes marciais, garantindo assim a preservação da rica herança do Arnis para as futuras gerações.

Em 1968, Remy se formou em Educação, com ênfase em Educação Física, com o apoio de Rosemary, tornando-se muito bem-sucedido. Seus negócios na cidade estavam prosperando e ele também estava lecionando aulas de educação física. Além disso, ele estabeleceu uma marca registrada: calças vermelhas e camiseta branca, que constituíam o uniforme original. Essa escolha foi inspirada nos Katipuneros, os combatentes filipinos pela liberdade, que tradicionalmente vestiam vermelho e branco, simbolizando sua luta pela independência. Esse uniforme tornou-se padrão para Remy e seus alunos. As faixas começaram a ser usadas em Bacolod, principalmente para distinguir os alunos mais proficientes, sem a necessidade de exames formais naquela época.

No mesmo ano, Remy enfrentou uma decisão que mudaria o curso de sua vida. Durante uma de suas sessões de verão na Rizal Memorial Sports Arena, em Manila, um grupo influente notou sua habilidade e paixão pelo Arnis. Entre eles estavam o Coronel Arsenio de Borja, Sr. Phillip Moncerrat e o Professor Jose Gregorio. Eles convidaram Remy a continuar sua jornada em Manila, reconhecendo o potencial nacional e até global de sua arte. Embora essa mudança representasse deixar para trás sua fundação em Bacolod e os negócios que sustentavam sua família, Remy viu nisso uma oportunidade única de compartilhar o Arnis com o mundo.

De Manila ao Mundo com o Arnis

Tendo em mente o impacto desta mudança tanto em sua vida profissional quanto pessoal, em 1969, Remy optou por aceitar o convite oficial e a se mudar para Manila, levando consigo não apenas sua família mas também seus irmãos Ernesto e Roberto. Uma vez lá, ele não apenas ensinou o Arnis a seus compatriotas, mas também buscou expandir sua influência além das fronteiras Filipinas. Com o intuito de atingir ainda mais pessoas, inaugurou um novo ginásio e fundou a Organização Nacional Amadora de Karate (NAKO). Através da NAKO, começou a ensinar em diversas instituições educacionais em Manila, promovendo o Arnis como uma arte marcial de calibre mundial, paralelamente ao Karate e Judô. Durante este período, deu origem à Modern Arnis Federation of the Philippines (MAFP).

Em 1969, Remy mudou-se com sua família para Manila e estabeleceu um ginásio no centro comercial da cidade. Ele fundou a Organização Nacional de Karatê Amador (NAKO) e continuou sua missão de revitalizar o Arnis em uma escala maior. Leccionou em várias instituições de ensino em Manila, destacando a beleza e eficácia do Arnis como uma arte marcial. Além disso, ele incorporou o ensino de Arnis em seu clube NAKO, junto com Karatê e Judô, proporcionando aos seus alunos uma formação completa em artes marciais.

As cerimônias de graduação em Arnis logo se tornaram eventos célebres no cenário esportivo das Filipinas. Demonstrando sua generosidade, Remy frequentemente dispensava estudantes com dificuldades financeiras das taxas. Seus espetáculos atraíam grande atenção, inclusive de figuras influentes como o então presidente Ferdinando Marcos. Isso impulsionou ainda mais o número de alunos interessados, resultando na fundação da Federação de Arnis Moderno das Filipinas.

Quando Remy se mudou para Manila, Lisondra assumiu o ensino de Arnis na Universidade de Negros Occidental. No entanto, em 1970, a pedido de Presas, Lisondra foi para Manila ajudar novamente no ensino de Arnis, agora sob o nome de NAKO, a "Organização Nacional de Karatê Amador". Nesse mesmo ano, o Mestre Lisondra recebeu o título de Lakan Apat, 4º Dan. Enquanto isso, Remy foi convidado para treinar uma unidade policial no Japão. Essa distinção, somada à sua expertise em Judô e Luta Livre, solidificou sua reputação no cenário internacional das artes marciais, elevando o Modern Arnis a um patamar globalmente reconhecido.

Também em 1970, Remy conheceu Rodel Dagooc, um jovem karateka de Iloilo. Após se inscrever na NAKO, Dagooc progrediu rapidamente na organização. Sua dedicação e comprometimento culminaram na conquista da faixa preta (Lakan) em Arnis, em 1972. Ainda em 1970, Ernesto Presas, irmão do Grão Mestre Remy Presas, fundou a Associação Karate Arjuken em Quiapo, Manila. O nome "Arjuken" é uma combinação de "ARnis", "JUjitsu" e "KENdo". Na escola Arjuken, Ernesto ensinava uma variedade de artes marciais, incluindo Modern Arnis, Shotokan Karate, Combat Jujitsu, armas de Okinawa e Kendo.

Na década de 70, o cenário político nas Filipinas já estava em transformação. Lisondra retornou a Bacolod, enquanto em 1973, Remy foi convidado para treinar uma força policial na Califórnia, marcando seu primeiro contato com os Estados Unidos. No ano seguinte, em 1974, ele voltou ao Japão, desta vez como representante do Ministério do Turismo das Filipinas na Feira de Turismo Asiática. Por seus serviços, o governo filipino o honrou com um passaporte de status de embaixador. Mais tarde, em Kuala Lumpur, Malásia, ele marcou presença na primeira Competição Internacional de Artes Marciais, acompanhado de sua filha Mary Ann.

Foi durante esse período que Remy expandiu seus horizontes ao ingressar no mundo do cinema. Ele assumiu a direção de artes marciais no filme "The Pacific Connection", colaborando com astros renomados como Dean Stockwell, Gilbert Roland e Nancy Kwan. Essa experiência cinematográfica ofereceu ao Modern Arnis uma visibilidade sem precedentes, alcançando audiências internacionais. Foi nesse contexto que Remy conheceu e treinou Rolando Pintoy Dantes, amplamente reconhecido como Mestre Roland Dantes. Este não apenas teve uma carreira notável no cinema, mas também se destacou no fisiculturismo, conquistando o título de "Mr. Philippines" cinco vezes entre 1971 e 1980 e competindo em torneios de alto calibre como "Mr. Universe" e "Mr. World". A colaboração entre Dantes e Remy foi além da produção de "The Pacific Connection". Eles desenvolveram uma relação mestre-discípulo profunda, culminando com Roland Dantes sendo o primeiro a ser honrado com a faixa preta de 8º grau por Remy anos mais tarde. É digno de nota que Dantes teve uma trajetória notável como policial, formando-se na Academia Nacional de Polícia das Filipinas, e se estabeleceu como instrutor de condicionamento físico.

Em 19 de março de 1974, o Conselho Municipal de Iloilo, Filipinas, reconheceu o valor inestimável do trabalho de Remy A. Presas na revitalização do Arnis. Através da Resolução nº 388, nomearam-no como o renovador do Arnis Filipino. Seus feitos transcenderam esse reconhecimento. Ele foi homenageado por diversas entidades renomadas, incluindo a Força Aérea das Filipinas e o Colégio Nacional de Educação Física. Além disso, Presas foi duplamente honrado com o prêmio SiglaLakas, um título que reflete "habilidade, força e poder", concedido a atletas que se destacam em suas modalidades esportivas.

No final da década de 1970, Remy deixou as Filipinas e se estabeleceu no continente americano, abrindo caminho para novas oportunidades em seu trabalho. Como o pai do Arnis Moderno e embaixador das Artes Marciais Filipinas nos EUA, ele organizou a International Modern Arnis Federation Inc. em junho de 1991 e recebeu o Prêmio Hall da Fama pela terceira vez.

Os alicerces da IMAFP foram lançados já em 1995, quando o Grão-Mestre Remy Presas instruiu seu ex-aluno, Shishir Inocalla, a reunir os antigos e novos alunos de Arnis Moderno e estabelecer a Federação Internacional de Arnis Moderno nas Filipinas.

A Federação Internacional de Modern Arnis, Inc. Filipinas (IMAFP) foi fundada pelo Grão-Mestre Remy A. Presas em fevereiro de 1999, em Manila. O processo de desenvolvimento culminou em 2000, quando o GM Remy Presas inaugurou o primeiro Conselho de Administração e oficiais da IMAFP, antes de seu falecimento em 28 de agosto de 2001 e que contava c a presença dos mestres Shishir Inocalla, Bambit Dulay, entre outros no seu quadro de membros.