por: Renato Berlim Fonseca
via: TecLogos
Em nosso último episódio eu comentei sobre o combate aproximado. Que começou com uma breve apresentação histórica do Balintawak Escrima, apresentado pelo guro Tales. Em seguida ele mostrou uma série de exercícios interessantes, feitos com o punho encostado ao do oponente Afinal, quando se está perto demais é preciso de outros sentidos além dos olhos para entender o que esta acontecendo, simplesmente não há tempo hábil para tática. O seu punho colado ao do adversário funciona como um antena. O que converge com o explicado pelo guro Lucas sobre consciência corporal. Ainda assim a distância é tão pequena que se o adversário não “telegrafar” o golpe você mal vai saber o que te atingiu. Se um combate já é algo rápido, no combate aproximado a velocidade, e o risco, são elevados ao quadrado. Não há tempo para pensar, a defesa deve ser um simples reflexo. Assim, acaba sendo também um excelente exercício de concentração.
Outro ponto alto foi a aula de Pekiti Tirsia, aplicado pelo lakan Guro Waldevir Júnior. O próprio professor já é uma figura marcante. Se o Wolverine saísse dos quadrinhos para ensinar certamente iria se parecer com ele. Apesar de ser extremamente profissional e tão técnico quanto os outros professores, ele tinha uma abordagem diferente dos outros, algo mais passional . Foi uma aula muito diferente do que eu estava acostumado, geralmente algo mais filosófico ou esportivo, enquanto nesse caso foi mais militar. Até porque o Pekiti Tirsia vêm sendo muito usado para capacitar militares e policiais e seu foco está na sobrevivência urbana. Se eu pudesse definir o que apreendi do estilo numa palavra ela seria “ousado”. Como o guro observou: num combate com faca, ganhando ou perdendo você vai se cortar. Não é uma situação em que você deseje estar mas, se estiver é melhor saber o que está fazendo. O que me reforçou a impressão que o combate aproximado é algo desconfortável, arriscado e rápido. E agora entendo porque dentro do Arnis as facas são ensinadas apenas a partir de um nível mais avançado. Elas são menores e mesmo as de treino são mais perigosas, tanto para o alvo quanto para quem empunha. Como diz o mestre Dada “o bastão procura o osso, as facas procuram a carne”. O nível de dano e de força necessária são inversamente proporcionais. E parece existir algo psicológico, a faca inspira algo diferente, mesmo sendo menor ela assusta mais que o bastão. E isso vale até para as de facas de treino, mesmo elas não devem ser usadas de forma leviana. Tanto que passei à usar os óculos de proteção com mais frequência. pekiti-tirsia
Além do uso de lâminas outra das bases da modalidade está no triângulo, que faz parte até do seu símbolo. A movimentação em relação ao oponente deve seguir essa idéia do triângulo. Você não avança direto para o adversário, ainda mais usando uma lamina, mas se desloca pela diagonal para flanquear e contra-atacar o oponente. E é importante não recuar, evitando que o adversário ganhe espaço ou velocidade. O movimento me lembrou muito a posição do gato, algo que meu antigo professor de kung fu ensinava muito bem. O que mostra que a física e o bom senso valem para todos.

Outra aula foi com o tuhon Daniel Barros, sobre o Latosa Escrima, da família Latosa e muito difundido na Europa e EUA. O sistema tem pontos bem legais, como a idéia da “caixa”. Que, pelo que entendi, define uma área entre a cabeça, ombros e barriga do adversário onde a maior parte dos golpes deve ocorrer. O que pode ser relacionado ao boxe. O que talvez seja explicado pelo fato que o Grande Mestre Rene Latosa já atuou como boxeador da força aérea americana. O detalhe, ele nunca teve treino formal como boxeador, mas isso realmente não parece ter sido um problema. Um aspecto particularmente interessante é a questão de equilíbrio, especialmente de controle. Não que outras artes não tenham isso, mas há uma preocupação mais visível. Não existe preocupação em girar o bastão ou qualquer coisa assim para ganhar força, a idéia são muitos ataques rápidos, sem longos movimentos para voltar o bastão para trás e ganhar força. Nesse aspecto o uso correto do próprio peso, desde as pernas e o consequente equilíbro necessário para isso explicam essa preocupação. O resulta me parecem ser golpes curtos e ao mesmo tempo fortes.

Foi um aprendizado riquíssimo do tipo que você sai um tanto mudado. Ainda quero entender o efeito que ser torcido, puxado, esfaqueado e derrubado em treinamento têm sobre a amizade, mas parece ser positivo. Conheci um casal que treina junto e eles dizem que simplesmente não brigam em casa porque gastam a energia treinando. E como diz o mestre, gritamos no treino para não precisar gritar em casa. No mais, não foi um momento de dominar, mas de conhecer técnicas novas e ver os efeitos físicos e psicológicos de um treinamento prolongado. Também foi uma oportunidade de treinar com gente de tipos físicos e habilidades muito diferentes da galera da academia que estamos acostumados. Gente mais alta demanda uma abordagem diferente de gente mais baixa, assim como os agressivos são diferentes dos cautelosos.

O último ponto que não poderia deixar de citar foi a comida. Confesso que fiquei triste quando soube que ia passar o fim de semana sob regime vegetariano, mas tive um grande surpresa com a comida do Tarcísio. Além de deliciosa, realmente me deixou me sentindo melhor do que quando cheguei. Talvez essa conversa de “detox” tenha algum valor. Enfim, a experiência como um todo foi algo que certamente planejo repetir.
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